quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Porque é que é importante incentivar na criança (a partir dos 7 / 8 anos) o interesse pela cultura?

A cultura é importante para todas as classes sociais, pela sua experiência social positiva que incorpora, pela visão prática que possibilita, pela sua liberdade de escolha de tantos temas que dispõe e pelo impacto positivo que tem no desenvolvimento psíquico da criança. A cultura não deve ser encarada como algo de aborrecido destinada apenas a pessoas de um certo e determinado estatuto social. A cultura vem facilitar a reflexão inerente ao ser humano.

A capacidade de reflexão é fundamental para que um indivíduo se desenvolva saudavelmente. O indivíduo precisa de um “espelho” para se ver e para se compreender melhor. A cultura vem possibilitar este espelho dando ao indivíduo uma representação social para reflectir sobre a sua representação e a sua identidade no mundo que o rodeia. Os modelos culturais em geral, com todas as suas referências, observadas e diversificadas na cultura orientam a criança para ajudar a desenvolver a sua capacidade reflectiva. Quanto mais referências culturais a criança tiver, que podem ir desde a música à dança, passando pelo teatro, pela pintura, pela escultura, pela fotografia, pelo desporto ou pela literatura entre tantas outras, mais ela obtém ferramentas para poder enfrentar a vida e para se sentir melhor consigo própria, porque se sente também preenchida, ocupada.

Como transmitir a cultura?

A cultura não é algo que se ensine, não é um ensinamento como tantos outros. É mais uma questão de assimilação através da observação e da imitação. Então, como transmiti-la na prática?

Uma forma de incentivar a criança será através de qualquer pedido ou desejo que ela possa manifestar. Mesmo não respondendo logo favoravelmente ao desejo que a criança manifesta, utilize, às vezes, esta demonstração de interesse para negociar com ela. Diga-lhe, por exemplo: “Sim, concordo, mas quero que comeces a ler pelo menos um dos livros que o teu professor te recomendou.” Ou ainda: “Sim, mas quero que vejas comigo um documentário sobre a natureza, sobre a evolução humana, sobre os mitos ou sobre a mitologia grega.” Temas não faltam! No início, ela não vai gostar, vai resmungar, mas com o decorrer do tempo, vai orgulhar-se pelo esforço de ter alcançado conhecimentos e outras vantagens.

Outras formas práticas para despertar na criança o interesse pela cultura poderão ser, por exemplo: oferecer à criança, quando possível, um bilhete de cinema para assistir a um filme próprio para a sua idade, torná-la assinante de qualquer revista de fundo cultural geral, incentivá-la a navegar na internet em sites sobre exposições ou outros eventos culturais, combinar com ela a leitura de certas obras bem escolhidas ou ainda acordar com ela um tempo dedicado a vários temas culturais. Depois dê-lhe tempo para ela interiorizar e reflectir sobres as suas propostas, para “sonhar” sobre elas e, assim, despertar-lhe o gosto, o interesse e o esforço para se conseguir que venha a ser, pelo menos, uma criança interessada minimamente pela cultura.

E mais, se a criança tiver a possibilidade de partilhar os conhecimentos que vai adquirindo connosco, pais, isso vai proporcionar-nos um enorme bem-estar, satisfazendo, ao mesmo tempo, algumas necessidades psicológicas da criança. Mas se a disponibilidade de tempo for escassa ou não houver paciência, então, pelo menos, incentive-a a partilhar estes conhecimentos e actividades com outros membros da família ou com outras crianças. Para quem quiser ir ainda mais longe, pode organizar, de vez em quando, uma mini-conferência com alguns membros da família ou com os amigos da criança para se falar sobre um determinado tema que se acabou de ver. Até para nós, adultos, este procedimento é vantajoso, porque obriga a ficar-se mais informado demonstrando assim, à criança, que se é possuidor de alguns conhecimentos.

Todavia, a bagagem cultural não se define apenas pelo conhecimento e pela informação que se tem, mas também, pela forma de convivência com os outros, no desfrutar o prazer de se estar junto e da partilha, no respeito pelas opiniões dos outros mesmo discordando delas, no rir e no comer em conjunto. Que forma elegante esta para educar, para escapar ao stress e aos constrangimentos diários, para criar laços afectivos, bem-estar e que até dá livre curso ao imaginário!

Todos estes meios e outros mais podem ser úteis, desde que a criança não fique entregue a ela própria para se auto-educar como se isso fosse possível. Quanto muito auto-instruir-se! Mas… para se educar é sempre preciso um adulto responsável que a oriente.